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Voltar Violência, desafios e projetos de vida femininos são destaque no webinário "PorElas"

Evento reuniu especialistas que trataram de temas como mercado de trabalho, maternidade e preconceitos

Pessoa com notebook apoiado em uma mesa e, na tela, um mosaico com as telas de algumas participantes do evento.

Pessoa com notebook apoiado em uma mesa e, na tela, um mosaico com as telas de algumas participantes do evento.

11/03/22 - O Tribunal Superior do Trabalho (TST) promoveu, nesta sexta-feira (11), o webinário “#PorElas: reflexões para um ambiente de trabalho mais justo”. O evento reuniu especialistas para conversar sobre os principais desafios enfrentados pelas mulheres no mundo atual do trabalho, os preconceitos ainda presentes em diversas carreiras e as formas de lidar com essas questões no dia a dia.

Na abertura, o presidente do TST, ministro Emmanoel Pereira, destacou o papel das mulheres na sociedade e suas reiteradas contribuições à humanidade. “Vocês são as protagonistas, e estou aqui muito mais para ouvir e aprender do que para falar”, afirmou. “O evento foi idealizado e integra o cronograma dedicado a celebrar o papel da mulher no Judiciário brasileiro”. 

Violência de gênero

A oficial técnica em princípios e direitos fundamentais no trabalho para América Latina e Caribe da Organização Internacional do Trabalho (OIT) Thaís Dumêt Faria abordou a eliminação da violência de gênero na vida e no trabalho, ao detalhar a Convenção 190 da OIT, primeiro tratado internacional assinado sobre violência e assédio no mundo do trabalho. Para ela, é impossível chegar hoje a um propósito de condições iguais entre todas as pessoas sem entender por que a sociedade chegou à situação de desigualdade vivida atualmente. “A violência no trabalho é, efetivamente, uma barreira para o progresso social e o desenvolvimento econômico”, destacou.

Liberdade

A antropóloga Mirian Goldenberg, colunista da Folha de S. Paulo, trabalha há mais de 30 anos em pesquisas sobre a liberdade e a busca da felicidade nos projetos de vida femininos. Em sua palestra, ela detalhou como algumas mulheres têm se libertado dos próprios preconceitos e estigmas e, também, das violências físicas, psicológicas e verbais que sofrem diariamente, dentro de casa e na vida profissional. “Cada mulher que se liberta liberta, também, muitas mulheres e muitos homens que estão aprisionados em modelos determinados pela nossa cultura”, afirmou.

Cotidiano

“Como fazer diferente? Reflexões sobre o cotidiano da mulher no local de trabalho” foi o tema da mesa-redonda mediada pela jornalista Basilia Rodrigues, da CNN Brasil, com a participação da presidente do Grupo Sabin, Lidia Abdalla, a consultora econômica Zeina Latif e a doutora em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações pela Universidade de Brasília (UnB) Carla Antloga.

Logo no início, Basilia questionou qual característica uma mulher precisaria ter para se destacar no mercado de trabalho, independentemente de sua área de atuação. Em seguida, contou a situação vivida por uma profissional altamente qualificada que não foi escolhida em um processo seletivo por ser “perfeita demais” e que “não queria demonstrar suas vulnerabilidades”, segundo os próprios recrutadores.

Na opinião de Carla Antloga, esse episódio mostra como ainda se espera, mesmo em 2022, que as mulheres sejam vulneráveis. “Quando uma organização diz a essa mulher que ela é perfeita demais, ela está dando um recado de que, basicamente, as mulheres não devem ocupar determinados lugares”, enfatizou, ao lembrar que o mundo do trabalho precisa se abrir para a diversidade.

Diversidade

Zenia Latif defendeu que demonstrar a capacidade de lidar com situações difíceis com equilíbrio e diálogo é um imenso ativo para um profissional. “As pesquisas demonstram que, cada vez mais, as empresas que apresentam diversidade estão mais capacitadas a lidar com problemas complexos. O grande desafio são as áreas de recrutamento entenderem que somos diferentes”, resumiu. 

Segundo Lídia Abdalla, é fundamental que a diversidade esteja presente para que as empresas sejam competitivas. "É enriquecedor, no mundo corporativo, ter convivências, classes sociais e pensamentos diferentes. Isso vai propiciar a criatividade”, assinala. Para a presidente do Grupo Sabin, é preciso, também, ter um ambiente de escuta genuína e de respeito. 

Mulher x mercado de trabalho

A juíza do trabalho Ana Paula Saladini, da Vara de Cambé (Paraná), fez uma retrospectiva histórica sobre a participação da mulher brasileira no mercado de trabalho, no último painel da programação do webinário. Segundo a magistrada, diferentemente do que se pensa, a mulher não ingressou no mundo do trabalho apenas quando ocorreu o processo de industrialização no país. Profissionais do sexo feminino sempre existiram, mas, por conta da divisão sexual histórica do trabalho, os homens se concentraram nas funções políticas, religiosas e militares, consideradas de maior valor agregado pela sociedade. “As mulheres sempre estiveram nesse universo, mas em condições diferentes de hierarquia e de remuneração”, enfatizou. 

Ainda de acordo com Ana Paula Saladini, as leis trabalhistas em benefício das mulheres datam de 1930, mesma época em que os trabalhadores homens passaram a ter direitos previstos na legislação, com o surgimento da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Ela chama a atenção para o fato de que as restrições ao trabalho perigoso, insalubre e no período noturno visavam proteger as mulheres, que tinham uma função social clara: a maternidade. “O trabalho da mulher, naquela época, não poderia impedir a sua função principal de gerar filhos. Era preciso assegurar novos trabalhadores para o mercado de trabalho futuro”, assinalou.

Confira como foi o evento:

 

(JS, NV, AM/GS, CF)

Rodapé Responsável DCCSJT